Uma Curadoria ....Matisse (Picasso)

Até 2009, as obras de Matisse, no Brasil, restringiam-se a duas pinturas existentes no acervo de pintura do Museu de Arte de São Paulo e uma no Museu de Arte Contemporânea da USP. Foi quando a Pinacoteca do Estado de São Paulo decidiu-se por abrir a primeira mostra individual de Matisse no Brasil com uma exposição intitulada "Matisse Hoje". Para isso, reuniu em setembro de 2009, 96 obras do pintor, entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras, papéis recortados e livros ilustrados. A curadoria foi de Emilie Ovaere e Regina Teixeira.

Henri-Émile-Benoit Matisse (1869-1954)

Um dos mais importantes criadores da arte moderna, Matisse trouxe para a arte uma maneira nova de usar, pensar e organizar as cores no espaço. Sentir através da cor foi sua ligação com o elemento cromático.


"La danse", mural da Fundação Barnes


No início de sua trajetória, foi líder dos fauvistas, um grupo de pintores que causou polêmica ao se reunir, a partir de meados da primeira década do século XX, para apresentar tela com cores estridentes e pouco fiéis aos tons dos objetos reais que representavam.








Com Picasso estabeleceu uma amizade de mais de 50 anos, definida pela rivalidade, dadas pelos contraste entre o tom espanhol de política e radicalismo e sua característica de calmaria e felicidade.

Depois que mudou-se para Paris e recolheu-se na Riviera Francesa (1910), seu trabalho passou a receber influências do orientalismo, em voga na época, imprimindo erotismo a seu trabalho. Essa inclusão de arabescos como elementos decorativos foi muitas vezes citada na crítica pejorativamente como superficiais.

Em fases posteriores, incluiu a tesoura entre suas ferramentas de trabalho. Com ela "esculpia" folhas de papel tingidas, criando uma nova técnica, a dos papéis recortados. Essa trajetória e habilidade pôde ser vista na exposição.


Matisse tinha destreza para encontrar o equilíbrio entre tons fortes.

Reconhecido por seu desrespeito às regras tradicionais da técnica e da pintura ao "desenhar" com o pincel e não representar com fidelidade planos e volumes. Matisse não reconhecia uma "natureza-morta" em sua obra, reconhecia apenas a "pintura de uma pintura", combinando os sentimentos com inovações técnicas.


Matisse é uma atitude.
Ele imprimiu em seu trabalho seu próprio estilo de vida: moderno, simples e prazeroso.

Matisse entra para a história por inovar na pintura e na colagem. Sua relação com as cores é determinante. Sua atitude moderna fez dele um dos raros protagonistas da revolução ocorrida nas artes no início do século XX, que influencia a arte feita até hoje. Foi ele um mestre em criar um tipo de impacto que vem de um gesto ou de uma ideia, assim como a arte que é feita no século XXI, seguidas, segundo as curadoras, por Cécile Bart, Christophe Cuzin, Frédérique Lucien, Pierre Mabille e Philippe Richard, entre outros.




Picasso (1881-1973)
Picasso (Málaga, 1881-Paris, 1973) era um pintor-poeta, que se considerava O ÚNICO HERDEIRO DE MATISSE e trabalhava sem parar na expectativa de transcender o efêmero. Nascido em pleno esgotamento do ciclo do impressionismo, teve lições com Gauguin e Cézanne.

Numa guinada violenta da história da arte, onde o personagem em questão dominava o artista - como acontecia há séculos - o que prevalecia, para ele, era o olhar filtrado pelas frestas da imaginação, o que alcançaria o ápice com o cubismo: mais do que o entendimento, é essencial refletir, questionar, aprender, comparar, reagir diante da inovação.

As grandes linhas estéticas do cubismo foram traçadas em Céret, uma cidadezinha nos Pirineus, em 1911, com um grupo de pintores revolucionários como ele.  Seu amor maior era a inovação.

O poder de despertar emoções fez de Picasso um artista que marcaria o século 20. Segundo a escritora Anäis Nin, "Ele ama intensamente e mata tudo aquilo que ama.".

No eclipse do cubismo, voltou-se para o neoclassicismo, a nova vanguarda, um reencontro com a aristocracia,  renovando seus laços com a geração de poetas das primeiras duas décadas do século 20.  Pintava mantendo a unidade da perspectiva, apesar da influência de Cézanne. Era elogiado por Marcel Proust. James Lord descrevia Picasso como obcecado por sua obra, pelas mulheres, pelo dinheiro e pelo comunismo (1937) do qual fazia uma aplicação moderna de marketing pessoal e administração de sua própria imagem.


Em 1935, pintou a figura do Minotauro que estupra e sodomiza donzelas, síntese do eterno embate entre a razão e o infinito. A originalidade era o seu sonho - o retorno às origens.  Seus traços característicos eram confrontações entre o esquema naturalista e o esquematismo geométrico, onde o touro ganhava a dimensão de um símbolo maior do que o fascismo; a brutalidade, a obscuridade, o triunfo da raiva, a anti-razão e o anti-humanismo. 

Os criadores do presente de então eram Renoir, Modigliani, Kandisnsky e Henry Matisse, quem o emocionava particularmente com seus comentários, pois via nele insinuar-se o horror do pessimismo (apaixonado pelo mito de Nietzsche que era), mesclando com o mesmo vigor a delicadeza e a brutalidade.

Os laços de Picasso eram com a intelectualidade que se alinhava com a resistência francesa.  Os papas do dadaísmo - Louis Aragon e Paul Élvard - seriam seus mentores marxistas e responsáveis por sua adesão ao P.C. Francês, stalinistas, contra a Gestapo e o nazi-fascismo.

Picasso era, acima de tudo, uma forma de olhar. Para ele, o realismo soviético era uma anti-arte. Segundo Max Jacob, seu amigo artista, "o cubismo nasceu da arte negra", entretanto, em momento algum Picasso teve qualquer atitude de blasfêmia ou anti-religiosidade. Picasso era obcecado por Deus. Era supersticioso e apaixonado pela eternidade. Gostava de comprar quadros de arte: Cézanne, Matisse, Modigliani, Renoir, Braque, Degas. 

Seu mundo criativo misturava história e mitologia. Descobriu a fotografia em 1901 e a transformou em uma das suas paixões.

Em 1956, a 2a. Bienal de São Paulo realizou a primeira grande mostra de obras de Picasso, incluindo a enorme tela de Guernica (3,5  x  8,7 metros).








Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A filosofia do belo

COMO POSSO SER CURADOR/A DE ARTE?

Estética filosófica - O que o artista faz?