O que é uma mediação literária?
Tati&Arte&Manha
Uma descrição poderia ser a de Ana Paula Cecato, que atua na Câmara Rio-Grandense do Livro com formação de mediadores de leitura e programas de incentivo à leitura: " o mediador de leitura (...) aproxima, de forma sensível e técnica, o livro literário de seus leitores. (...) se propõe a estabelecer vínculos entre o repertório afetivo e cultural dos leitores e o mundo da cultura letrada presente nos livros. Uma qualificada ação mediadora é aquela que acolhe e desafia seu público leitor, no intuito de oferecer espaços para a construção da subjetividade e para a produção do conhecimento. (...) ler o livro literário como um objeto cultural, cujos sentidos são operados através de seus textos, ilustrações e projeto gráfico.".
O mediador de literatura e leitura, faz uma acolhida e ao mesmo tempo um desafio ao profissionais do livro (esses todos que têm seus nomes inscritos nas guardas do livro) para fazer do livro um objeto artístico.
A mediação atua, nesse sentido, como facilitador da leitura, de maneira sociológica, que pode dar-se pelo Letramento Literário: processo de apropriação da literatura enquanto linguagem, o que começa com as cantigas de ninar e continua por toda a vida a cada romance lido, novela ou filme assistido.
A apropriação propriamente dita se dá quando percebemos o que sentimos ao ler um poema que nos sugere palavras para expressar o que não conseguíamos antes disso, fazendo uso da linguagem literária como modo singular de construir sentidos originados na intensidade da interação com a palavra e da experiência literária da literatura enquanto linguagem.
Como se pode oportunizar o letramento literário?
Sim, existem técnicas, que poderiam ser sintetizadas em alguns aspectos necessários e sucessivos, como:
- eleger livros literários que apresentem projetos editoriais e literários consistentes, com boa qualidade de texto, ilustração e projeto gráfico;
- manter contato direto com a obra, interagindo com o livro;
- existência de espaços de compartilhamento de textos e interesses pela leitura das obras;
- estratégias de socialização das leituras a partir das experiências dos leitores;
- proporcionar repertório literário amplo nas diversas manifestações culturais;
- desenvolvimento de competência literária.
Existem itinerários para a ação mediadora literária que contemplam também o público infanto-juvenil, que é dada através de roteiros de leitura e ações de intervenção facilitadora pré e pós leitura. Estes assumem a narrativa oral sem prejuízo da leitura do texto escrito que poderá vir a sucedê-lo.
A arte de contar histórias é uma das mais antigas do mundo. Afirma Lenice Gomes (in "Cantares e contares: brincadeiras faladas. A arte de encantar: o contador de histórias contemporâneo e seus olhares" - 2012) que "A arte de contar histórias é também uma arte da memória. Não é difícil perceber que a memória é sempre o reencontro com a tradição. Tradição oral efetuada pelo exercício social da oralidade". Tino Freitas destaca (in "Sobre afeto e livros: o papel do contador de histórias na promoção da leitura e na formação do leitor na comunidade. A história fora do papel: a oralidade e a multiplicação dos espaços" - 2013) "O afeto é a ponte entre o livro e o leitor. (...) É o contador de histórias a voz que guia essa criança no caminho que leva ao gosto pela leitura."
"As histórias fazem aparecer, das palavras, o universo. E o contador de histórias, moldando figuras na articulação da voz, deixa escapar os habitantes de uma grande arca, para que façam morada nos terrenos vizinhos. Mas os novos habitantes só estarão realmente livres quando completados pela porção de seus novos donos, os ouvintes." (Sisto, 2012).
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